domingo, 3 de fevereiro de 2019

A REPRESENTAÇÃO DA LINGUAGEM E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO


O que é a alfabetização?“... relação entre o método utilizado e o estado de maturidade ou prontidão da criança”. (p.9)
Trata-se da relação entre os métodos aplicados pelos professores e o nível de aprendizagem, representação gráfica e compreensão da escrita dos educandos.
A escrita como sistema de representação
“Qual é a natureza da relação entre o real e a sua representação? O que a escrita realmente representa? Por acaso representa diferenças nos significados? Ou diferenças nos significados com relação á propriedades dos referentes dados á criança? Representa diferenças entre os significantes? Ou diferença entre os significantes com relação aos significados?” (p.13)
Seguindo a lógica de Emília podemos concluir dos seus questionamentos o seguinte: Existem inúmeros questionamentos sobre os processos de alfabetização que acabam por deixar claro o caráter complexo do nosso sistema de escrita, nta diferençdaí se dá a importância de explicar as questões conceituais para tentar esclarecer os conflitos epistemológicos surgidos na mente das crianças acerca da temática.
Segundo Emília: “A escrita pode ser considerada como uma representação da linguagem ou como código de transcrição gráfica das unidades sonoras”. (p.10)
“A diferença essencial é a seguinte: no caso da codificação, tanto os elementos como as relações já estão predeterminados; o novo código não faz senão encontrar uma nova representação diferente para os mesmos para os mesmos elementos e as mesmas relações. No caso da criação de uma representação, nem os elementos nem as relações estão predeterminados”. (p.12)
“A invenção da escrita foi um processo histórico de construção de um sistema de representação, não um processo de codificação. Uma vez construído, poder-se-ia pensar que o sistema de representação é apreendido pelos novos usuários como um sistema de codificação”. (p.12)
“Mas se, se concebe a aprendizagem da língua escrita como a compreensão do modo de construção de um sistema de representação, o problema se coloca em termos completamente diferentes”. (p.15)
“... sua aprendizagem se converte na apropriação de um novo objeto do conhecimento, em uma aprendizagem conceitual”. (p.16)
Os educandos passarão a entender a escrita como um conhecimento construído através das relações sociais, assim poderá se basear e ser direcionada tanto pela linguagem usual da sociedade como pelos conceitos existente acerca da escrita, como:
“As escritas de tipo alfabético (...) as escritas silábicas poderiam ser caracterizados como sistema de representação cujo intuito original é representar as diferenças entre os significantes.(...) as escritas de tipo ideográficos (...)cuja intenção primordial é representar diferenças nos significados”.
As concepções das crianças a respeito do sistema de escrita
Através da produção espontânea das crianças, podemos compreender como pensam e o que pensam sobre a escrita. É importante o estímulo dessa produção para o desenvolvimento cognitivo delas, e também para diagnosticar o grau de conhecimento que elas possuem sobre a escrita, dessa forma, é importante o profissional da educação não limitá-las a exercer as tarefas só mediante orientação de um professor. É necessário compreender que num ambiente alfabetizador, o professor terá o papel não só de ensinar as características do sistema de escrita, mais também o uso funcional da linguagem em sociedade. Ele tem que levar sempre em conta os aspectos construtivistas da criança, ou seja, tem que considerar a intenção e os meios utilizados para criar as suas representações, e não só se preocupar com as questões gráficas. Cada criança tem certo conhecimento e certa capacidade, os quais cabem aos educadores perceberem para assim melhor fundamentar os métodos aplicados em sala de aula. Vejamos os trechos de Emília que vai mostrar como se dá a evolução psicogenética delas.
“As primeiras escritas infantis aparecem, do ponto de vista gráfico, como linhas onduladas ou quebradas (ziguezague), contínuas ou quebradas, ou então como uma série de elementos discretos repetidos (séries de linhas verticais, ou bolinhas)”. (p.18).
“Essas escritas são consideradas, como garatujas, o resultado de fazer como se soubesse escrever”. (p.17)
· “distinção entre o modo de representação icônico e o não icônico;
· a construção de formas de diferenciação (controle progressivo das variações sobre os eixos qualitativo e quantitativo);
· a fonetização da escrita ( que se inicia com o um período silábico e culmina no período alfabético)”. (p.19)
A fase em que se usa desenho para representar as letras, chamamos de icônicas. Quando a criança já começa adotar critérios de diferenciações intra e interfigurais, avaliando a quantidade mínima de letras (eixo quantitativo) e varia a posição das letras(eixo qualitativo) para que a escrita seja interpretada, podemos dizer que ela está passando pelo segundo período.O terceiro período caracteriza-se pela capacidade que a criança tem de dá atenção para as partes sonoras das palavras e já fazem correspondências gráficas, chamada de hipótese silábica.
“O período silábico-alfabético marca a transição entre os esquemas prévios em via de serem abandonados e os esquemas futuros em vias de serem construídos”. (p.27)
Esse é período em que a criança percebe as sílabas não são uma única unidade sonora, ou seja, não são representadas por uma única letra.
As concepções sobre a língua subjacentes á prática docente
“... com profissionais de ensino apareceram três dificuldades principais que precisam ser inicialmente colocadas: em primeiro lugar, a visão que um adulto, já alfabetizado, tem do sistema de escrita; em segundo lugar, a confusão entre escrever e desenhar letras; finalmente, a redução do conhecimento das letras e seu valor sonoro convencional”. (p.31)
“Na América Latina (...) espera-se habitualmente que a criança possa ler antes de saber escrever por si mesma (sem copiar)”. (p. 35)
Não podemos desvincular o ensino da escrita do ensino da leitura de mundo, da linguagem usual. Quando se valoriza demasiadamente a cópia com fins de diagnosticar ou avaliar o grau de conhecimento da criança, cometemos um grande equívoco, pois como adultos, precisamos entender que o domínio dos sinais gráficos, as letras, não significa aquisição de conhecimento ou entendimento da linguagem. Isso foi constatado pela experiência feita por Emília. A mesma expôs alguns adultos a textos estrangeiros, que possuíam uma linguagem as quais eles desconheciam, assim mesmo que os adultos dominassem as técnicas de escrita não conseguiram ler os textos, e assim perderam logo o interesse pelos textos.
“A criança vê mais letras fora do que dentro da escola: a criança pode produzir textos fora da escola enquanto que na escola só é autorizada a copiar, mas nunca a produzir de forma pessoal”. (p.38).
Precisamos entender também a diferença entre desenhar letras, que consiste na cópia de sinais gráficos, e escrever, que diz respeito a produção pessoal, para que dessa forma possamos estimular nossas crianças á produzir mais e ter maior independência.